quinta-feira, 14 de abril de 2011

Historia Da Bruxaria


De meados do século XIV até o fim do XVIII, um grupo de moléculas contribuiu para a desgraça de milhares de pessoas. Talvez nunca venhamos, a saber, exatamente quantas, em quase todos os países da Europa, foram queimadas na fogueira, enforcadas e torturadas como bruxa durante esse século. As estimativas variam de 40 mil a milhões. Embora entre os acusados de bruxaria, houvesse homens mulheres e crianças, camponeses e clérigos, em geral os dedos eram apontados para as mulheres-sobretudo pobres e idosas.
Propuseram-se muitas explicações para o fato de as mulheres terem se tornado as principais vítimas das ondas de histeria e delírio que ameaçaram populações inteiras durante centenas de anos. Especulamos que certas moléculas embora não inteiramente responsáveis por esses séculos de perseguição, desempenharam neles um papel substancial.
A crença na feitiçaria e na magia sempre fez parte de sociedade humana, muito antes que as caças às bruxas começassem no final a Idade Média. Ao que parece, entalhes da idade da pedra, representando figuras femininas eram veneradas por seus poderes mágicos de proporcionar fertilidade. O sobrenatural esta presente de modo abundante nas lendas de todas as civilizações antigas: divindades que assumem formas animais, monstros, deusas com o poder de enfeitiçar, magos, espectros, fantasmas, criaturas temíveis, deuses que habitavam o céu etc. a Europa pré-cristã, um mundo cheio de magia e superstição, não era exceção.
À medida que o cristianismo se espalhava pela Europa, muitos antigos símbolos pagãos foram incorporados aos rituais e celebrações da igreja. Em alguns países ainda são celebrados, como halloween, o dia das bruxas, a grande festa celta dos mortos, que assinalava o inicio do inverno, no dia 31 de Outubro, embora 1º de Novembro, dia de todos os santos, tinha sido uma tentativa da igreja para desviar as atenções das festividades pagãs. A noite de Natal foi originalmente o dia festivo romano de Saturnália. A árvore de natal e muitos outros símbolos (o azevinho, a hera, as velas) que hoje associamos ao Natal tem origem pagã.
Trabalho e tribulação
Antes de 1350 a bruxaria era vista como pratica da feitiçaria, uma maneira de tentar controlar a natureza em nosso próprio interesse. Usar sortilégios na crença de que podiam proteger safras ou pessoas, fazer encantamentos para influenciar ou prover, e invocar espíritos eram lugares-comuns. Na maior parte da Europa, a feitiçaria era aceita como parte da vida, e a bruxaria só era considerada crime se produzisse danos. As vitimas do maleficiun ou de maldade produzidas por meio do culto podiam empreender ações legais contra um bruxo, mas se fossem incapazes de provar sua acusação tornavam-se, eles próprios, passiveis de punição e tinham que pagar as custas do processo. Por esse método, evitavam-se acusações vãs. Raramente bruxos eram condenados à morte. A bruxaria não era nenhuma religião organizada, nem uma oposição organizada à religião. Não era sequer organizada. Era apenas parte do folclore.
Por volta de meados do século XIV, porém, uma nova atitude em face da bruxaria tornou-se manifesta. O cristianismo não se opunha à magia contanto que fosse sancionada pela Igreja e reconhecida como milagre. Quando conduzida fora da Igreja, porém, era considerada obra de Satã. Os feiticeiros estavam em conluio com o Diabo. A Inquisição, um tribunal da Igreja Católica originalmente estabelecida por volta de 1233 para lidar com os hereges- sobretudo no sul da França – expandiu seu mandato para lidar com a bruxaria. Segundo algumas autoridades, depois que os hereges haviam sido praticamente eliminados, os inquisitores, precisando de novas vítimas voltaram os olhos para a feitiçaria. O número de bruxos potenciais em toda a Europa era grande; a fonte possível de ganhos para os inquisitores, que partilhavam as propriedades e os bens confiscados com as autoridades locais, deviam também ser enormes. Logo bruxos estavam sendo condenados, não pela prática de malefícios, mais por terem supostamente estabelecido um pacto com o Diabo.
Esse crime era considerado tão horrendo que, em meados do século XV, as normas ordinárias do direito não se aplicavam mais a julgamentos de bruxos. Uma acusação isolada era tratada como prova. A tortura não era apenas admitida, era usada rotineiramente; uma confissão sem tortura era considerada pouco confiável – ideia que hoje parece estranha.
Os atos atribuídos aos bruxos – promover rituais orgíacos, fazer sexo com os demônios, voar em vassouras, matar crianças e comer bebês – eram em sua maior parte absurdos, o que não impedia que se acreditasse nela fervorosamente. Cerca de 90% dos acusados de bruxaria eram mulheres, e seus acusadores podiam ser tanto mulher como homens. Se os chamados caçadores de bruxas revelavam uma paranoia subjacente voltada contra as mulheres e a sexualidade feminina é uma questão por discutir. Sempre que um desastre natural acontecia, não faltavam testemunhas para atestar que uma pobre mulher, ou provavelmente um grupo delas, havia sido vista cabriolando com demônios num sabá (ou reunião de bruxas), ou voando pelos campos com um espírito malévolo – na forma de um animal como um gato – ao seu lado.
O furor tomou conta igualmente de países católicos e protestantes. No auge da paranoia da caça às bruxas, cerca de 1500 a 1650, quase não sobrou nenhuma mulher viva em nenhuma aldeia da Suíça. Em certas regiões da Alemanha houve algumas aldeias cuja população inteira foi queimada na fogueira. Na Inglaterra e na Holanda, com tudo, a perseguição frenética às bruxas nunca se tornou tão encarniçada como em outras partes da Europa. A tortura não era permitida pelas leis inglesas, embora suspeitos de bruxaria fossem submetidos à prova da água. Amarrada e jogada num poço, uma bruxa de verdade flutuava e era então regatada e devidamente punida por enforcamento. Caso afundasse e se afogasse considerava-se que fosse inocente – um consolo para a família, mas de pouca valia para a própria vida.
O terror da caça às bruxas só amainou aos poucos. Mas os acusados eram tantos que o bem-estar econômico ficou ameaçado. A medida que o feudalismo batia em retirada, e despontava o iluminismo – e que vozes de homens e de mulheres d coragem, que se arriscavam a ir para a forca ou para a fogueira por se oporem aquela loucura foram se levando -, a mania que assolara a Europa durante séculos foi se reduzindo gradativamente. Nos Países Baixos, a última execução de uma bruxa ocorreu em 1610, e na Inglaterra, em 1685. As últimas bruxas executadas na Escandinávia – 85 mulheres idosas queimadas na fogueira em 1699 foram condenadas com base exclusivamente em depoimentos de crianças pequenas, que afirmaram ter voado com elas para sabás.
No século XVIII, a execução por bruxaria havia cessado: na Escócia em 1727, na França em 1745, na Alemanha em 1755, na Suíça em 1782 e na Polônia em 1793. Mas embora a igreja e o Estado tivessem deixado de executar bruxas, o tribunal da opinião pública mostrou-se menos disposto a abandonar o temor e a aversão à bruxaria adquirida em séculos de perseguição. Em comunidades rurais mais remotas, as velhas crenças continuaram dominando, e não poucos suspeitos de bruxaria perderam a vida – ainda que não por diante oficial – de maneira violenta.
Muitas mulheres acusadas de bruxaria eram herboristas competentes no uso de plantas locais para curar doenças e mitigar dores. Muitas vezes forneciam poções do amor, faziam encantamentos e desfaziam bruxarias. O poder de curar que algumas ervas realmente tinham era visto como tão magico quanto os encantamentos e rituais que cercavam as demais cerimonias que realizavam.
Usar e receitar remédios a base de ervas era, na época – como agora - , um negocio arriscado. As diversas partes de uma planta contêm níveis diferentes de compostos eficazes; plantas colhidas em lugares diferentes podem variar em poder curativo; e a quantidade necessária de uma planta para produzir uma dose apropriada pode variar segundo a época do ano. Muitas plantas podem ser de pouca valia num elixir, enquanto outras contêm medicações extremamente eficazes, mas também mortalmente venenosas. As moléculas dessas plantas podiam aumentar a reputação de uma herboristas como feiticeira, mas o sucesso podia ele próprio acabar sendo fatal para essas mulheres. As herboristas com maior capacidade de curar podiam ser as primeiras rotuladas de feiticeiras.

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